terça-feira, 21 de setembro de 2010

IV - Uma Xácara para Pavlova



Frase do capítulo:
"Mas para essa coisa de ficar sentado com criança fazendo figurinha não tenho paciência nenhuma."
(Ziraldo)


- Digita aí enquanto eu dito. - Tião parecia ter pressa e seguiu falando. Paulo, com seus dedos frenéticos, transcrevia tudo no 386 de 1993.


Prima Pavlova, minha querida

Quanto tempo se passou

Mudei tanto, você não viu

Nem um cartão você mandou

Apesar disso ainda me lembro

O seu sonho não acabou


Saí da Ucrânia há tanto tempo

Vim atrás de um grande amor

Me transformei pelo caminho

Tomei chuva e senti dor

Ainda cumpro a tal promessa

Não me esqueci do seu clamor


Nessa terra onde moro

Tem de tudo. Ouro e prata

Tem também uns pescadores

Que eles chamam de “Os Pirata”

Mas sua encomenda eu achei

Em terra firme, no meio da mata


Sei de suas preferências

Prometo não decepcionar

Já chequei os “documentos”

Não são grandes, mas dá pra usar

Tome cuidado com com excesso

Não use muito pra não gastar


Me despeço nesses versos

Com saudade no coração

Logo mais os garotos chegam

Tô mandando de avião

Um presente do primo Vlad

Pra guardar de recordação


- Agora imprime isso e coloca no bolso. Vou embalar vocês dois pra viagem.


Tião falava muito sério. Paulo cantarolava em rítmo flamenco os versos que acabara de escrever e se deu conta de que estavam ferrados. Enquando matutava um plano beleza, rezava pra que uma entidade baiana poderosa como Xangô os tirasse dali. Sussurrou para Dadinho, que estava entretido com seu sabonete antisséptico, e aproveitou a distração de Tião para copiar os arquivos do computador para um disquete flexível.


- Anda muleque. Imprime logo esse bilhete. Vou mandar vocês de presente pra prima Pavlova ainda hoje. Quando saí da Ucrânia ela me pediu um souvenir.

- Mas por que você escolheu logo a gente? Com tanto badulaque por aí. - Paulo argumentava

- É mesmo. Cheio de postais, criancinhas e órgãos variados. - Dadinho também se manifestava.

- Vocês devem saber que não os escolhi pela aparência. Precisava de alguém pra digitar esse bilhete, já que com o cotoco não consigo acentuar as palavras.

- Porra mas que que eu tenho com isso? - irritou-se Dadinho, cheio de razão enquanto diretor de arte. - Raptar o Paulo eu até entendo...

- Calma, garotos. A prima tem dois filhos, vocês podem se revezar cuidando das crianças. Enquanto o Paulo diverte um com aquela imitação ótima de Freddie Mercury, você faz a limpeza da jaula do outro.

- Ah, não quero isso não. Posso até dar um sapeca na sua prima, mas para essa coisa de ficar sentado com criança fazendo figurinha não tenho paciência nenhuma. - disse Paulo.


Tião, o Jiraya, observou o comportamento dos dois enquando discutiam entre si o share dos afazeres domésticos. Nenhum deles sabia a real intenção de Tião, mas aquilo não era o que parecia ser. Anos como marketing manager da Chernobyl Nuclear Power Plant lhe deu um feeling para escolher trainees para o job que viria a seguir. O verdadeiro motivo daquela história toda só seria descoberto depois, quando os rapazes finalmente compreendessem o significado por trás do poema criptografado que Tião havia ditado. (Este parágrafo tem o patrocínio de Fisk)


Como quem é vivo sempre aparece, o pai de lingua presa dá as caras. Entra, coloca as chaves sobre a mesa, pára (esse blog é da resistência contra o acordo ortográfico) um pouco em frente à tv, pinica os bagos e senta-se no sofá enquanto olha os dois muleques em pânico.


- Tião, você não acha que agoga tá indo longe demais?

- Pai, o Acre que é longe demais. Isso é apenas um acerto de contas. Fui chamado para uma missão quando abri aquela arca iluminada. Vou até o fim nem que seja a última coisa que eu faça.


Dadinho olhou para Paulo com uma cara de “peidaram aqui”. Estavam confusos e precisando de um plano rápido. Na correria da fuga pelo matagal não pegaram nenhuma ferramenta. A caixa de disfarces de Paulo foi perdida numa fatídica batida na encruzilhada da Via Espressa. Dadinho era contra violência e preferia morrer a ter que suar numa luta corporal contra o dromedário que vigiava a porta.


A aparente calmaria foi interrompida por um barulho do lado de fora. Tião ordenou que o pai tomasse conta dos dois muleques enquando conferia o acontecido. Abriu a porta e se deparou com a terrível cena. Uma mulher vestida de noiva e suja de sangue, usando um cinto de castidade, chorava compulsivamente sobre o corpo de um anão de capacete prateado.


Frase do próximo capítulo:
"Vocês gostam de se emaconhar, não gostam? De ficar 'doidão', 'chapadão' e depois comem, comem, comem" - Perua de Deus, no livro Cócegas, pág 97.

O capítulo também deverá conter um ditado popular, um palíndromo e uma data comemorativa.

(Lembrando que todos os capítulos desta última temporada deverão conter a palavra “último”. “Última”, “últimos” e “últimas” também valem. “Ultimamente”, “ultimato” e “ultimogênito” estão proibidas.)

Nenhum comentário: