segunda-feira, 16 de agosto de 2010

III - Jurassic Perk



Frase do capítulo:
“Sou livre de qualquer preconceito. Odeio todo mundo, indistintamente.”
(W. C. Fields)

- O dinossauro que acompanha o tênis?... - os quatro peladões repetiam a frase, tentando encontrar algum sentido.
- A Laís tá certa – disse Paulo Saci. - Isso aí é um dromedário. Tenho certeza. Até criei uma comunidade no Orkut a respeito desse bicho. (Nota do Patrocinador: torne-se um membro da "Dromedário Power" clicando aqui!)

Um som rachado invade a sala e eles percebem que, além de um estranho maquinário coberto por uma lona preta, há também uma pequena televisão ligada ali no canto. Vem a voz do locutor:

- "Bem, amigos da Rede Engodo! Estamos aqui para mais uma partida emocionante do Trinidad e Tobago Open! Maria Shavaskova enfrenta sozinha as irmãs Williams com uma mão amarrada nas costas e um shortinho branco debaixo de chuva! Agüeeeenta, coração!"
- Como é que alguém consegue não acompanhar o tênis? - diz o dromedário, zonzo de empolgação – É o esporte mais legal do mundo!
- Eh, foi mal, seu dromedário – diz Dadinho –, mas o senhor afirmou ser um dinossauro, e...
- Senhor é o seu passado. Eu sou menina, não tá vendo? Meu nome é Наташа.
- Perdoem a minha esposa – veio da porta uma voz grave e serena. - Tive que levá-la a um psicólogo que fazia regressão, pra que ela reaprendesse a falar, mas ela voltou umas trezentas vidas passadas e agora cisma que é uma linda brontossaura. O médico pediu pra não contrariar.

Os oito pares de olhos esbugalhados viraram-se para a porta. Era ele: o maluco de máscara vermelha.

- Tira a gente daqui, seu bobo! - esperneava Laís Abel.
- Que Xangô te arranque os olhos e Oxossí beba seu sangue! - gritava Nívea S.

O homem andou até o centro da sala.

- Não adianta invocar sua baianidade pra cima de moá, garota. Tenho o corpo fechado desde aquela vez que visitei o terreiro de uma mãe de santo bipolar pra tratar da minha caxumba.

Flashback em tom de sépia: uma baiana com seu longo vestido branco, rodopiando em torno de si enquanto diz: "Ilê ayê, eu vou curar a sua caxumba. NÃO VOU CURAR PORRA NENHUMA, ESSA MERDA VAI DESCER PRO SACO! Fica tranqüilo, mizifi, a cura tá chegando, tá chegando. SEU SACO VAI PARECER A BOCHECHA DO QUICO! GENTALHA! GENTALHA! PRRRLLL! Não escuta essa maluca, mizifi, a cura tá chegando, tá chegando."

Dadinho, Paulo, Laís e Nívea, alheios ao flashback, observavam com cuidado o homenzarrão. No matagal, debaixo da tempestade, só tinham notado a máscara dourado-escarlate igual a de Touha Yamashi, o Incrível Ninja, e o rosnar da motosserra STIHL 356. Agora, conseguiam identificar também a roupa preta, o colar feito com biscoitos da sorte do China in Box e a botinha Ortopé, tão bonitinha! A serra elétrica não estava mais em suas mãos – ou melhor, em sua mão, pois o cotoco escapando pela manga da camisa denunciava a ausência do membro.

- Desculpe pelo tratamento – diz o sujeito. - É que ser gentil logo de cara não condiz com minha nova aparência. Já que a máscara e a motosserra não inspiram mesmo muita confiança, resolvi brincar um pouquinho.
- E por que a gente tá pendurado desse jeito? Cadê nossas roupas?
- Estão saindo da secadora. Estavam encharcadas. Se as garotas quiserem ir, aliás, posso buscar a chave das algemas, as roupas e vocês estão livres.
- E a gente? - perguntou Dadinho.
- Vocês dois ficam. Tenho assuntos a tratar convosco.
- Fudeu, Dadinho. É hoje que a gente empacota.
- Foi aquele filme da lagartixa, Paulo. Falei pra gente nunca tirar aquilo do papel. Só trouxe azar.
- O que você quer com meus amigos, seu... seu... - Laís se esforçava para encontrar um palavrão.
- Jiraya. Tião Jiraya. E o que eu quero com seus amigos é assunto meu, sua ecologista insolente.
- É ecóloga! Ecóloga! - Laís se debatia, mas a falta de uma lei que regulamentasse a profissão tornava tudo mais difícil.
- Você tem preconceito contra comida baiana? - piscou Nívea S., oferecida. O homem respirou fundo o aroma de dendê que exalava de seu corpo e disse:
- Não. Sou livre de qualquer preconceito. Odeio todo mundo, indistintamente. Natasha! - ele gritou para a dromedária grudada na telinha. - Pára de ver esse jogo e me traz o kit-liberdade desse povo.

A dromedária saiu e retornou com um molho de chaves enferrujado na boca e várias roupas no lombo. Tião Jiraya desamarrou as mãos, os pés e os pescoços de Laís Abel e Nívea S., entregando-lhe em seguida suas vestimentas secas, passadas e com cheirinho de lavanda.

- É isso. Foi um prazer ter vocês no meu Q.G. Até mais ver. Beijo, me liga.
- A gente não vai sair sem nossos amigos – disse Laís, enquanto pendurava as miçangas trocadas em Milho Verde por caixinhas de popcard.
- Laís, vocês têm que ir e avisar a galera no Rancho do ZÁZ. A essa altura, o Misael e a Anãma já estão cruzando, as meninas jogando strip-twister e o Tarardo Manquino ameaçando matar todo mundo e ir embora pra Valfendas. Alguém precisa contar pra eles que a gente tá aqui.
- Nananinanão – disse Tião Jiraya, com o dedinho balançando. - Se for pra cagüetar, não deixo ninguém ir embora. Tá cheio de cocô da Natasha lá fora pra limpar e eu bem poderia ter uma ajudinha de duas moçoilas.
- Oxe, tá bom, a gente não fala coisa niúma – prometeu Nívea S.

Tião se deu por satisfeito e despachou as duas. Depois livrou Paulo Saci e Dadinho Pinel das amarras e repetiu o procedimento de entregar-lhes as roupas.

- Bom – disse Tião. - Muita coisa aconteceu na minha vida nos últimos tempos. É por isso que preciso de vocês, Paulo e Dadinho.
- Você sabe o nosso nome?
- Sei muito mais que isso, meus caros. Sei que Paulo até hoje não aprendeu a pular de ponta ou fazer bola de chiclete. Sei que Dadinho sofre de falacrofobia, não sai de casa sem Sundown fator 80 e detém o recorde brasileiro de mais banhos tomados em um dia, com 19.
- Eu sou um cara limpinho – defendeu-se Dadinho, coçando-se todo por estar mais de cinco horas sem ver um chuveiro.
- É por saber tanto sobre vocês que os trouxe até aqui.

Tião Jiraya puxou a lona preta e revelou o maquinário oculto: era um 386 surrado, monitor preto-e-branco, 17 megahertz de velocidade (mas que subia pra 25 apertando o Turbo) e a tela em branco do Bloco de Notas aberta.

Paulo e Dadinho observaram o arcaico equipamento por alguns segundos e Dadinho perguntou:

- O que é que você quer, afinal?

E o Tião:

- Eu quero que vocês escrevam um negócio pra mim.

Frase do próximo capítulo:
"Mas para essa coisa de ficar sentado com criança fazendo figurinha não tenho paciência nenhuma."
(Ziraldo)

O capítulo também deverá conter um bordão de Didi Mocó, uma palavra proparoxítona que começa com X e um número primo maior do que 1000.

(Lembrando que todos os capítulos desta última temporada deverão conter a palavra “último”. “Última”, “últimos” e “últimas” também valem. “Ultimamente”, “ultimato” e “ultimogênito” estão proibidas.)

Um comentário:

Isabella Brandão disse...

A Lais Abel é muito zuada por aqui... Não to gostando disso não huahauhauha