sábado, 7 de agosto de 2010

II - Horror em MTV




Frase do capítulo:
“Ora, eu sou o dinossauro que acompanha o tênis!”
(Anúncio na contracapa da revista Cebolinha 39, maio de 2010)



O telefone tocou e Djéssika Pitre Maio correu para atender. Mesmo do alto de seus doze anos ela sabia que telefonema de madrugada é desgraça ou trote.


- Mãe, liga a televisão. - disse ela ainda com o telefone na orelha (essa palavra é muito legal).


Dona Schirley, que também é mãe de Paulo Saci, correu em direção ao controle remoto. Ainda foi possível escutar o final da música que apresenta o plantão de notícias da emissora. Schirley e Djéssika sentaram-se no sofá de oncinha da sala enquanto escutavam, estarrecidas, às últimas notícias. O repórter Cazé Margoca dava o furo:


“- Um misterioso incidente está intrigando as autoridades mineiras. Um carro foi encontrado abandonado na rodovia que liga as cidades de Sapeca-Iaiá e Saúva. O veículo não apresenta qualquer dano aparente e foi deixado no local com os faróis acesos e o som ligado. A polícia não trabalha com hipótese de assalto, já que os pertences dos ocupantes foram deixados no local. Nas bagagens: roupas, documentos, orégano, dinheiro, um paliteiro de restaurante chinês e uma zuzara sem tampa. Testemunhas estão sendo ouvidas e um helicóptero da polícia militar faz buscas pelo local. A única pista até agora é um caminho recém aberto no mato do acostamento e uma trilha de jujubas. A qualquer momento voltaremos com mais informações.”


- Minha filha, aquele é o carro dos meninos. Liga pro celular do seu irmão aí.

- Tá dando fora de área. Mãe, aquele 5120 do Paulo não pegava aqui, você acha que vai pegar no meio do mato?

- Cala a boca! Não fala isso. Seu irmão não tá no mato. Tenta ligar de novo.


Enquanto isso, em algum lugar no meio do mato...


Estavam todos algemados, pés imobilizados e usando colares apertados (pra rimar). Foram pendurados pelas mãos em ganchos de açougue e estavam completamente pelados. O lugar era úmido, mas, talvez pela época do ano, não era frio. A intensa chuva produzia várias goteiras que pareciam se multiplicar quando o eco percorria o ambiente. Tinha-se a impressão de que estavam numa caverna.


- Oxe, gente, alguém ta enxergando alguma coisa? - perguntou Nívia S.

- Acho que tô vendo umas luzes, mas não tenho certeza se tô vendo mesmo ou se são da pancada na cabeça. (nota do psicógrafo: não vi quem disse isso)

- Danou-se, a gente vai morrer. Aquele doido da motosserra vai nos picar em pedaços bem pequenos e nos dar de comer pra umas Nepenthes sibuyanensis - desesperou-se Laís.

- Calma, a gente nunca morre quando tá esperando. Vamos sair dessa e quando estivermos voltando pra casa a gente bate o carro e morre. É sempre assim. - Paulo tinha muita psicologia, principalmente quando estava se borrando de medo.


Entre uma fala e outra, quando o silêncio se instalava, todos tentavam captar algum barulho que pudesse fornecer uma dica do que estava acontecendo. Juntavam suas lembranças na esperança de formar uma cena compreensível, mas tudo que conseguiam eram flashes de uma corrida maluca pelo matagal com aquele louco vestido de Jiraya atrás deles. Dadinho se lembrava do barulho da motosserra e de ouvir sua avó gritando pela greta. (um leitor mais desavisado pode imaginar a avó do personagem com habilidades orais em certa parte da anatomia, mas me refiro à outra greta)


- Paulo! - Laís gritou como se tivesse uma novidade boa pra contar.

- Pssssiu. Fala baixo, Laís. Que que foi?

- Acho que eu consigo tirar a gente daqui. Lembra de quando fomos acampar com o pessoal do Instituto Coração de Dom Bosco? Pois então, eu e o professor Clowndio estávamos dando uns pegas perto de um arbusto de Schefflera arboricola. No meio do vuco-vuco ficamos agarrados nos galhos da planta e tivemos que pedir ajuda. Daí o pessoal do acampamento veio resgatar a gente passando baba de nenúfar pelo nosso corpo, que ficou suado, molhado, sensual, escorregadio, tes...

- Mas que que isso tem a ver com a nossa situação? - Interrompeu Paulo, que estava nú e não queria aumentar sua intimidade na frente de estranhos.

- É que desde esse dia, nunca mais saio de casa sem um potinho de baba no "bolso". Só preciso dar um jeito de pegá-lo e consigo me livrar dessas algemas.


Antes que Paulo se entusiasmasse com a possibilidade de fuga, Nívia ouviu passos e pediu que fizessem silêncio. Eles tremiam enquanto as pegadas nas poças d’água se aproximavam cada vez mais. O que quer que estivesse andando, agora estava no mesmo ambiente que eles. Dadinho sentiu uma fungada quente no cangote e teria caído se não estivesse suspenso pelos braços. A “coisa” ia caminhando e cheirando cada um, como quando a gente verifica a validade antes de colocar na boca.


De repente a escuridão foi trocada por uma claridade forte. Todos franziram as pálpebras, mas logo abriram os olhos para ver o perigo que corriam. Assustados, petrificaram-se diante do que viram.


- Por que esbugalhastes esses olhos grandes, Paulo? perguntou a criatura.

- É o Daileon? - Nívia quis saber.

- Não, parece um Camelus dromedarius. - participou Laís.

- Que isso, gente? Não tão me reconhecendo? Ora, eu sou o dinossauro que acompanha o tênis!



Frase do próximo capítulo:
“Sou livre de qualquer preconceito. Odeio todo mundo, indistintamente.”
(W. C. Fields)

(O capítulo também deve conter um diálogo entre as duas personalidades de uma mãe de santo bipolar, uma marca de comida chinesa e uma doença contagiosa)

(Lembrando que todos os capítulos desta última temporada deverão conter a palavra “último”. “Última”, “últimos” e “últimas” também valem. “Ultimamente”, “ultimato” e “ultimogênito” estão proibidas.)




Um comentário:

Isabella Brandão disse...

Só pra defender a Laís Abel, quero esclarecer que ela nunca fez nada disso ai que vcs tão dizendo!!! quanta calúnia!