sábado, 13 de março de 2010

XVIII - Desconstantinoplatanilizadoramente



Frase do capítulo:
“É um lance de poesia profundo, feito de acaso e equívocos, que serve como síntese do drama tropicalista.” – Caetano Veloso, Verdade Tropical, página 124


Tião carregando o pai pelos ares como um trem levando as cinzas do velho éon:

- Pai, enquanto a gente sobrevoava Pripyat eu tava pensando... Não tenho nenhuma foto da minha infância. Você não teria nada guardado daquela época?

- Vlad, meu filho, sua infância foi uma época muito contugbada na minha vida e da sua mãe. Até desmamar você ficou na penitenciáguia de Vladivostok mogando com ela.

- Eu me lembro pouco da mamãe. - disse Tião, enquanto acompanhava com os olhos o resto da patota que ia andando lá em baixo.

- Sua mãe ega uma delícia. Muito doida. Foi pguesa no dia do nosso casamento vendendo Tandy Tutti Fgutti na saída de uma escola. O governo comunista achava isso uma afgonta.

- Eu fui feito dentro de uma cadeia?

- Foi. Pus a sementinha numa dessas visitas íntimas. A pguisão feminina de Vladivostok ega pguepagada pga visitas íntimas de pguimeiga. Espelho no teto, canal de sacanagem na TV a cabo, ratoeiga e penico. Visitava sua mãe sempgue, até o dia que peguei ela com outgo. - o pai de Tião mudou o tom.

- Mamãe te traiu na cadeia?

- Me tgaiu. Bgown, ega o nome dele. Me ligagam em casa avisando que você já ia nascer e então cogui pga penitenciáguia. Cheguei e ela tava lá, baguiguda e toda se esfguegando. Você nascendo e eles se lambuzando de líquido amniótico, passando sangue na caga. Pense você: sua mãe me tgaindo no dia do seu nascimento.

- Ah, velho, Brown é lindo. Essa história é linda. Sangue, dedo médio, amor e suor... É um lance de poesia profundo, feito de acaso e equívocos, que serve como síntese do drama tropicalista. Supera isso!

Meanwhile, no chão...

A turma toda foi seguindo. Passaram pela Hungria e fizeram um pit stop na estação Újpest-Köszpont para uma típica sopa de galinha Ujházi. Na Alemanha, comeram um delicioso apfelstrudel de calabresa e compraram um desodorante. Desceram à Espanha para pernoitar e fazer umas espanholas - que ninguém é de ferro -. No outro dia acordaram cedo e rumaram pro Marrocos, de onde deveriam embarcar num pesqueiro inglês que vinha da Tunísia rumo ao Rio de Janeiro. Sol havia feito uns contatos e arranjou essa carona em troca de alguns favores não publicáveis num blog de família como este. Só posso adiantar que envolvia penetração e uma foto do Boris Casoy.

Após quase 6 horas sob o escaldante sol marroquino, dividindo a sombra de um cedro, a patota não aguentava mais esperar pelo navio. Sol tapava o sol do rosto e tentava enxergar se o navio apontava de longe, mas nada. Todo aquele lubrificante e acrobacias no lustre foram em vão.

- Sol, vamos arrumar um jeito de sair daqui. - resmungou, Tião Butterfly Caparó Moskovisky- Assim, como borboleta, só tenho 3 meses de vida. Esse dia já me custou tempo demais.

- Tá certo, Tião. Vamos andando até Rabat e de lá pegamos um avião. Quero chegar logo e acabar com isso.

- Cagalho, não esse sapato tá cogoendo meu pé.

- Vem cá, pai. Te levo voando.

O caminho até a capital era longo e cansativo. Mais ainda para Natasha que, apesar de dromedário, nunca tinha caminhado tanto e com tanta gente no lombo. A essa altura andava trocando as patas, se derretendo por um Chicabon e sonhando com um pônei cor de marmelo.

- Óóóó! O que é aquilo? - gritou a dekassegui usando sua melhor interjeição.

Tião, que tinha boa vista lá do alto, desceu num rasante voo Air France 447, quase deixando o pai cair. Imediatamente uma nuvem de poeira raiou no horizonte. Luzes cegantes lançavam seus raios amarelos sobre os fios revoltos da carcunda de Natasha. Pensaram que 2012 chagara antes da hora, ou que uma caloura de medicina que odeia pobre (piada interna) havia chegado de surpresa.

Antes fosse. Aquilo que viam era pior que o mundo acabando em axé e dedo no olho.

Frase do próximo capítulo: "Não, o Cristo Redentor não é o Megazord de Jesus." - O Criador, Twitter 2010.

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