quinta-feira, 6 de agosto de 2009

XVI - Voooa Brabuleta


Frase do capítulo: "Não vou mudar. Esse caso não tem solução."
(Roberto Carlos)

Durante o tempo dentro do buraco, Tião não tinha idéia do que acontecia lá fora. Não passava muita luz pela Greta - digo, greta - da tampa de madeira. Vez ou outra, quando não estava em coma profundo, escutava algumas pessoas conversando, mas não sabia precisar quantas eram e nem que língua falavam. Japonês se misturava com sotaque do Piauí, que se confundia com barulho de serras circulares cortando aço. Era uma mistureba de serralheiria com show com da Stephanie.

- Ô esse menino! Abre a tampa aí que eu tô curiosa pra saber como ele ficou.

O coração de Tião fibrilou quando ouviu a mulher dar a ordem. Depois de tanto tempo no buraco do tatu, não reconheceu a voz de Greta. E talvez não fosse ela mesmo. - um pouco mais adiante vocês vão descobrir que realmente não era ela. -

- Gente, acho que ele ainda não ta pronto não. Melhor enterrar mais um tempo e passar mais gala de elefante. - opinou a dekassegui.

Vlad foi abrindo os olhos bem devagar. Seus cones - ou seriam os bastonetes? - demoravam mais tempo para preparar o olho praquela claridade toda. Sentiu como se estivesse sendo parido novamente, mas sem a água de privada no fim do túnel. Seu primeiro parto, dentro de um vaso sanitário da penitenciária feminina de Vladivostok, foi traumatizante demais. (Me lembrem de contar sobre a noite de sexo que a mãe de Vlad teve no dia do parto.) Aos poucos os vultos foram ganhando forma mais definida. O borrão de preto se revelava ser o Eunuco; o splash rosa era uma japonesinha miúda e o borrão branco era só uma mancha na parede mesmo.

- Solta ele, bando de tgogloditas!

Vlad virou-se pra tras e ficou espantado ao ver seu pai amarrado no lombo de Natasha. Ainda estava confuso e tentando reconstruir cronologicamente os acontecimentos.

- Pai? Natasha? Onde a gente tá?

- Tião...Tião...Tião... Você morreu, Tião.
- Quem disse isso? Por que eu tô aqui? - perguntou, com medo.
- Você está aqui porque assim quis o destino que eu tracei pra você.

Uma luz forte brilhou de um canto do galpão e a voz revelou-se para Tião. Era ela. Linda e loira: Sol da Meia-Noite, a filha do capitão de Bujari.

- Sol?
- Alguém me explica quem é essa loiga tgaíga?
- Sol, me fala pra que eu tô aqui enfaixado desse jeito! A gente não se vê ha tanto tempo. Não to entendendo mais nada.
- Poga, gaguega. Megueço uma satisfa... (Natasha saiu pra pastar com o pai de Vlad amarrado na garupa)

- Tião, meu tesouro, você sabe que o dinheiro muda a cabeça das pessoas. Quando ganhei o prêmio da luta, só uma coisa passava pela minha cabeça: vingança!
- Se vingar de mim?
- Não, querido. Me vingar de papai. O Pajé cuidou de mim como uma filha e não me deixou faltar nada que um pai pudesse dar, mas nunca superei a rejeição daquele gordo safado.
- E que que eu tenho a ver com isso? - grunhiu, visivelmente irritado.
- Investi o dinheiro da luta e meus conhecimentos de macumba, nano partículas e fabricação de chumbada num projeto super grandioso. Como matar papai, simplesmente, não me satisfaria, conclui que deveria fazê-lo reviver todos os seus pesadelos do passado e um deles é você.
- Tira esse ódio do meio desses seios durinhos, Sol. Você sempre foi uma boa moça e da tempo de mudar novamente.
- Não, Tião. Não vou mudar. Essa caso não tem solução.

Sol contou sua trajetória desde que perderam contato. Tião só concordava com a cabeça e tentava mostrar algum sentimento arqueando as sobrancelhas e fazendo bico.

- Então foi por isso que te atraí pra cá e te coloquei nesse buraco. Seu casulo.
- Casulo?
- É, casulo. Pensou que ficou dormindo enrolado esse tempo todo por que motivo?
- Sei lá. Achei que fosse pra ficar quentinho e controlar minhas ereções noturnas.
- Não, criatura. Esse casulo foi sua cova e também o buraco do seu renascimento.

Não perca no próximo capítulo: Sol explica para Tião pra que diabos servia a dekassegui.

Frase do próximo capítulo: "Tudo dentro da lei, da ordem e do progresso" (Mario Prata)

Um comentário:

Unknown disse...

Vale a pena reparar no uso de palavras da área biológicas (cones, bastonetes, etc...). Seria isso influência do cursinho?