quarta-feira, 20 de maio de 2009

XI - Laugh to keep crying



Frase do capítulo:
Pior que comprar no cartão aí, não parcela né? Ah nem.
(Nina Gulosa 69)

- Há… há… hahahahahahaha!

O pai de Tião ouviu a risaiada e foi lá ver qual era a piada. Encontrou o filho vestido de Jaspion – incluindo armadura, máscara e pinto pequeno – se derretendo em gargalhadas, como se fizessem cosquinhas em seu pé contando piada de argentino com a voz do Bob Esponja. Ele se debatia no chão, dava socos na própria cabeça e ria tão alto que Filisbina quase se levantou do caixão pra mandá-lo calar a boca.

A culpa era do gás encontrado na mofada fantasia do Jaspion: resíduos do famigerado protóxido de nitrogênio, conhecido nas aulas de química inorgânica como óxido nitroso e nos becos como gás hilariante.

- Haaaa hahahahahahaha – prosseguia Tião, deplorável.
- Que isso, Tião? Fumou maconha estgagada, pogga?! – disse o pai, assustado.
- Não, cheirei o gás do riso! Quáaaaa quaraquaqua!!
- Anda, vamos lá senão vai escuguecer e ninguém vai admigar o nosso figuguino.

Devidamente caracterizado como Madonna, o pai de Tião sentia-se como um virgem, um garoto materialista vivendo num mundo materialista. Quando voltaram ao caixa, ele queria pagar logo e sair pras ruas, mas ainda faltava o essencial: a fantasia da finada Filisbina.

- Vai lá, filhão. A esposa é sua, escolhe a roupa que mais te aggada. Pensa num fetiche que vocês não conseguigam realizar em vida.
- Ráááá hahahahaha! Madonna de língua presa! Rárárárá ai ai...

Os demais clientes da loja (dois Elvis, cinco Village People, um ET, um Rodolfo, um homem pelado com um cabo de vassoura no traseiro alegando estar fantasiado de maçã do amor, um chiuaua vestido de rato – ou seria só um chiuaua? – e um saci vestido de Roberto Carlos) pararam pra assistir o showzinho ridículo de Tião. Seu recém-pai começou a ficar irritado.

- Pága com isso, cagalho! Eu num te dei educação não?!
- Pior que não, te conheci foi anteontem! Hauhauhauhahauha!...

O saci veio perguntar o que estava acontecendo.

- Ele tá com pgoblema de gases.
- Problema de gases! Heheheihiehahiaheihauhau!

A situação era calamitosa. Querendo que aquilo acabasse logo, o pai perguntou ao balconista se havia fantasias para pessoas com dificuldade de locomoção e o cara indicou uma roupinha para bebês gigantes. Enquanto ele e Tião vestiam o que restava de Filisbina com macaquinho, sapatinho e fraldas, o atendente se virava no telefone com o fornecedor pra pedir um carrinho de bebês que coubesse a defunta.

- Só aceita cheque? Que coisa mais anos noventa! Ah, tem cartão também? Cê me fala só agora? Pior que comprar no cartão aí, não parcela né? Ah nem. Manda esse carrinho logo, eu mando minha filha aí depois fazer uns servicinhos.

E assim saíram um Jaspion e uma Madonna levando pelas ruas de Prypiat um bebê que não devolvia os tchauzinhos que lhe mandavam. Perguntavam:

- Que gracinha! Tá dormindo?

E o Tião:

- Não. Tá morta! Aaaaaahahahaha!

O efeito do gás hilariante já estava quase passando quando a noite enfim chegou e Tião recobrou o juízo.

- Bom, já nos divertimos à beça. E agora? Enterramos a bichinha?

Foi aí que toparam com uma pequena e sinistra porta de madeira que trazia uma placa com a inscrição:

Compro ouro e prata
Faço carreto
Ressuscito mortos

Frase do próximo capítulo: “Elas serão extremamente ofensivas, se utilizadas por um estrangeiro.” (Guia de Conversação de Chinês da Publifolha, p. 147)

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