domingo, 10 de maio de 2009

VIII - Manda buscar outra correndo lá no Itaim



Frase do capítulo:

"Se eu não puder ir junto, farei um cheque pra você comprar um

vestido bacana, assim que o dinheiro entrar na minha conta."

(Chico Buarque)



Filisbina tentou dizer alguma coisa, mas não conseguia articular as palavras. Apertava os botões do painel do carro na tentativa de passar alguma mensagem. Tião, sem saber o que fazer, prestava atenção nos sinais da mulher e ao mesmo tempo discava pedindo socorro médico. Engasgada e sufocada, já vendo a vó pela greta, disse:


- Tô morrendo, Tião. Era veneno, Era veneno. Vem comigo encontrar a luz.


- Quem te fez isso, mulher? Para de babar e me conta.


- Tá ficando escuro, Tião. Não me deixa ir sozinha.


- Veja bem, isso é uma coisa muito séria. Vou ter que pensar a respeito, mas se eu não puder ir junto, farei um cheque pra você comprar um vestido bacana, assim que o dinheiro entrar na minha conta. Vai ser o ectoplasma mais bonito da eternidade.


Filisbina ainda disse algumas palavras, que não cabem num blog familiar como este , e morreu.


Sem ter mais o que fazer, Tião não esperou o socorro chegar. Se ficasse por ali dando bandeira poderia ser ser morto ou até confundido com uma baiana do acarajé. Pirulitou-se para dentro da festa na esperança de ainda roubar o custoso boi.


Correndo, nosso herói chegou somente até a primeira arquibancada. Era tarde demais. O Boi Caprichoso acabava de entrar na arena e Tião não teria mais chances de roubar o bovino. Pensou em se matar, em arrancar a outra mão e até mesmo se entregar aos ensinamentos da Cabalah. Era tudo muito desesperador. Mas primeiro precisava sair daquele lugar. Passou pelo portão dos fundos sem ser importunado e ganhou o pátio do estacionamento. Quando pensava que o capítulo terminaria sem nenhuma surpresa...


- Psiu. - chamou o desconhecido.


- Quem é você?


- Sou um amigo, pode confiar. Vi a movimentação perto daquele cago pgueto e achei que pguecisava de ajuda. Mogo na cidade vizinha, onde tenho uma pousada, e se você não tiver onde ficar te dou abguigo.


- Vou aceitar. Preciso pensar no que fazer daqui pra frente. Melhor que seja longe.


- Vamos! Te dou uma cagona.


***


Frase do próximo capítulo: "Ah, Paris! Palácios de cristal e ruas imundas." Tirada do livro Boca do Inferno, da Ana Miranda.

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