quinta-feira, 16 de abril de 2009

VII - Não vale a pinga da rodoviária



Frase do capítulo:
"Ô cachorro do História Sem Fim, cê já comeu?"
(Bernardo Silveira)

- Eu disse alô, caramba! - repetia Tião, aguardando uma resposta do outro lado da linha. Finalmente, ouviu a voz da patroa.
- Tião, infelizmente vamos ter que abortar o plano.
- Hein? Abortar por quê?!
- Aquela pinga de cupuaçu da rodoviária não me fez bem e preciso evacuar urgentemente. Te espero lá no carro.
- Pinga de cupuaçu? Mas você nem bebeu pinga nenh... - e, no meio do H, Tião foi interrompido pelo Tu.

Por sua cabeça só passava um pensamento: "Aquela vadia deve estar louca". Mas o carinhoso julgamento acerca da sanidade mental de Filisbina rapidamente deu lugar a um estranhamento. Por que logo ela, que tinha prisão de ventre e só visitava a casinha de duas em duas semanas (munida de picareta e alicate para remover a petrificada matéria fecal), abortaria um plano tão bem delineado? E por que a voz robótica e grave misturando a Eva Byte gripada com aquela mulher do Jaspion que falava grosso? E por que ela iria direto para o carro, se o que precisava era chapiscar a porcelana? E por que chamar de "evacuar" o que ela se referia como "cortar o rabo do macaco" até em jantares solenes na Embaixada?

A mente fértil de Tião gerou, quase que instantaneamente, uma hipótese para explicar as múltiplas questões: Filisbina tinha sido pega, estava sob a ameaça de uma arma e fora obrigada a ligar para Tião e atrai-lo para uma cilada. Observação atravessando o texto: "atrai-lo" é uma palavra feia, tenta falar em voz alta. Acho que é o sufixo -ilo. Vacilo, pistilo, bacilo.

"Vaca... falei que ela podia bolagatear os seguranças que eu não ia ficar bravo... se bem que ela sempre foi melhor na La Cubana... pensando bem, ela faz um candelabro italiano como ninguém..." Enquanto filosofava, Tião tentava se decidir entre salvar a esposa e roubar um boi azul. Resolveu comer uma empadinha primeiro pra pensar melhor. Mas na primeira mordida topou com uma desagradável azeitona, que era uma das três coisas que ele mais odiava no mundo (as outras duas eram espirrar dirigindo e a música da jujuba da Marisa Monte). Um sujeito albino, com barba branca ocupando todo o corpo e cabelo de estopa estava ao seu lado, escolhendo seu salgado na lanchonete, e Tião se dispôs a ajudar:

- Ô cachorro do História Sem Fim, cê já comeu?
- Tirando sua irmã e sua mãe, ainda não.
- Então come essa empadinha com gosto de lixo.
- Aposto que cê cuspiu nessa merda, mas aceito de bom grado.

Convicto de que resgatar a amada das garras dos malfeitores era a opção mais sensata - senão depois o rolo de macarrão ia comer solto - Tião rumou para o estacionamento. Foi cabreiro, pé ante pé. Olhou pro lado, olhou pro outro, não vinha ninguém. Filisbina estava dentro do carro, sozinha, quieta e mais magra, e foi com certa preocupação que Tião entrou no carro.

- Querida. Tá tudo bem? O quê que aconteceu?

Mas quando ela se virou, não foram palavras que saíram de sua boca.

***

A MELHOR FRASE POSTADA NOS COMENTÁRIOS no momento em que o autor do próximo capítulo for escrever será encaixada no texto. Não vale utilizar nomes próprios e nem as palavras “cambalacho”, “sassaricando” e “glasnost”.

***

Update de 26/04:
Acabou a democracia. Pouca gente andava postando frase avulsa nos comentários, então chega de interatividade. A frase avulsa que o De Pinho deverá encaixar no próximo capítulo, tirada a esmo do novo livro do Chico Buarque, é "Se eu não puder ir junto, farei um cheque pra você comprar um vestido bacana, assim que o dinheiro entrar na minha conta." (Leite Derramado, 2009, página 83).

3 comentários:

Unknown disse...

O que saiu da boca de filisbina??

Unknown disse...

Reclamação supra sumo:
Como acabou a possibilidade de contribuir à tamanha epopéia?
estou chateada com essa resolução....
Não mandarei beijos dessa vez. Mi (sem carinha feliz).

Unknown disse...

Abaixo a ditadura!