terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

V - Os pedar da bicicreta são azur



Frase do capítulo:
"E mesmo sem entender ela cuspiu a merda do pirulito azul e suspirou: - A festa de Parintis fica longe pra caraio!!" (Gizelle Fonseca)


Tião e Filisbina tocaram a campainha do sítio do Capitão Orlandi, situado na zona mais-que-rural de Tarauacá, glorioso município acreano conhecido por ser a terra do abacaxi gigante. (Nota do Editor: a informação realmente procede e uma bibliografia completa sobre a garbosa fruta pode ser encontrada no final deste capítulo.)

Dois cachorros exibindo um reluzente pêlo azul lhes sorriram latindo enquanto o mordomo, um homenzarrão trajando uniforme azul do topo do quepe ao cadarço das botinas, veio atender à porta. Tião e Filisbina disseram a senha (“felicidade redonda é um hipopótamo azul”) e o mordomo gentilmente ordenou que entrassem. Passaram pelo jardim repleto de aquilégias, hortênsias, centáureas e pervincas – flores azuis, caso o leitor seja um asno em Botânica –, cruzaram o salão adornado por azulejos azuláceos e prataria azul-cobalto e chegaram enfim ao escritório de cor celeste onde trabalhava quieto o Capitão Orlandi.

Ele olhou para o casal ucrano-acreano esbanjando desdém.

- O que é que vocês têm pra mim?

Triufante, Filisbina jogou sobre a mesa a sacola repleta de pirulitos azuis, como quem grita “meeeeipau!” numa mesa imunda de bar.

O Capitão abriu um largo sorriso, deixando à mostra alguns dentes de safira, e não se conteve: levantou o traseiro da cadeira e deu um forte abraço no casal.

- Meus queridos. Estou muito, muito feliz. Deus e o Google sabem como é difícil encontrar pirulitos da língua azul aqui nesta terra maldita. Vou pegar o meu Visa Infinity e depositar pra vocês a prometida recompensa.

Tião e Filisbina permaneceram no cômodo enquanto Orlandi foi buscar o seu cartão. O plano tinha dado certo: Sol da Meia-Noite estava entretida com seu milhão de dólares e o ticket-helicóptero e nem se importaria com uma porra duma sacola de pirulitos; o Capitão ficou feliz pra caramba com mais um item para sua gigantesca coleção; e nosso casal receberia uma recompensa tão gorda quanto uma grávida de óctuplos, que permitiria um dia-a-dia sem trabalho nem estresse pelo resto de suas vidas. Tudo porque, naquele dia em que Filisbina insistiu que fossem jantar na aldeia vizinha só porque lá tinha televisão e ela precisava saber se a Flora ia matar a Donatella, toparam com um estranho anúncio colado mal e porcamente na parede. Era uma lista de dez objetos imensamente desejados pelo abastado e excêntrico Capitão Orlandi, seguido por uma promessa de muitos dinheiros em troca. Entre os itens que compunham a lista, estavam os olhos de Frank Sinatra num potinho de formol e uma estátua de cera do Blue Man Group a ser roubado do Madame Toussauds. Segundo o que puderam apurar nos becos, Orlandi tinha como objetivo de vida ser dono da maior coleção particular de coisas azuis do mundo, e entre brinquedos, selos, roupas, instrumentos musicais, lápis de cor, relíquias históricas, armas, utensílios culinários e sexuais, um disco de vinil azul da coleção Disquinho e a armadura oficial do Change Pégasus, pouca coisa ainda faltava, e era com afinco e muitos dígitos na conta bancária que ele se dedicava a completar sua coleção.

Depois que o Capitão voltou e completou a transação, houve um silêncio e Orlandi emendou com eloqüência, aproveitando a brecha:

- Vai aí um pirulito?

Tião e Filisbina aceitaram o agrado e puseram-se a chupar (com todo o respeito). Doida pra chegar em casa e começar a pensar nos jeitos mais loucos de gastar a dinheirama, Filisbina olhou para o amado com cara de pidona, dizendo com o olhar: “Vamos embora, benhê?”. Tião despediu-se educadamente de Orlandi e os dois já iam saindo quando ouviram novamente a voz fanhosa do Capitão:

- Se quiserem, tenho mais uma missão pra vocês.

Tião ficou tentado e parou para ouvir.

- Naquele anúncio do boteco, não coloquei o décimo primeiro item da minha lista. É que sempre sonhei em ter na minha coleção um boi-bumbá Caprichoso, original da Festa Folclórica de Parintins, e poderia oferecer por ele uma retribuição que vocês não são capazes de imaginar.

Tião olhou para a esposa, pedindo aprovação.

- O que acha, querida?

E mesmo sem entender ela cuspiu a merda do pirulito azul e suspirou:

- A festa de Parintins fica longe pra caraio!!

Depois da mal-educada recusa Tião não teve alternativa a não ser agradecer mais uma vez o Capitão, estrategicamente colocar o rabo entre as pernas e ir embora pra casa. Mas de madrugada, após as quatro furunfadas usuais com Filisbina e tendo já tomado a sua gemada, ele ainda não tinha conseguido dormir e permanecia absorto, pensando na proposta.

*****

Como de praxe, a ÚLTIMA FRASE POSTADA NOS COMENTÁRIOS no momento em que o autor do próximo capítulo for escrever deverá obrigatoriamente ser encaixada no texto. Que comece o festival de absurdos! Não vale utilizar nomes próprios e nem as palavras “chumbrega”, “senecto” e “massulipatão”.

*****

E como prometido, a indispensável bibliografia sobre o abacaxi gigante de Tarauacá.

FERREIRA, Edmilson. (2008). O segredo do abacaxi gigante. Disponível em http://www.agencia.ac.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=5349&Itemid=26

MACHADO, Altino. (2006). Terra do abacaxi gigante. Disponível em http://altino.blogspot.com/2006/11/terra-do-abacaxi-gigante.html

RIO, Evandro Ferreira. (2008). O abacaxi gigante de Tarauacá. Disponível em http://ambienteacreano.blogspot.com/2008/03/o-abacaxi-gigante-de-tarauac.html

4 comentários:

Unknown disse...

"o material genético (mudas) do nosso abacaxi está no Banco de Germoplasma de abacaxi do Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura Tropical"... Coisa sinistra né?!Bj,Mi:)

Marina Zanetti disse...

Imagina o tamanho da afta que esse tal abacaxi num dá!!!

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Poxa! Tá disputadíssimo esse negócio de por uma frase aqui... Lá vai a minha:
"Ora, eu não encontrei um tamanho maior, então resolvi ficar com esse desfibrilador mesmo!"

Unknown disse...

Frase de MI:
"O veterinário disse que essa grama vai de nutrir o intelecto dos bodes anorexicos".