segunda-feira, 31 de março de 2008

24 - Maktub



Breve explicação do funcionamento da incubadora a jato:

Desenvolvida pela Toshiba, a incubadora a jato usa rádio frequência para coletar amostras de células-tronco de um espécime feminino e um masculino que estejam dentro dos limites da máquina. Paredes de adamantium reforçadas com bagaço de laranja, impedem que as ondas escapem e coletem amostras exteriores. Os DNAs são então convertidos em sinal UHF digital e transmitidos a laser para uma central de processamento que fica em Nascoxa, no Japão. Centrífugas giroscópicas bidimensionais fazem a fusão dos cromossomos, criando uma massaroca gelatinosa que é então aquecida e humidificada até virar a sapeca criança. Hormônios de cavalo cuidam, finalmente, do crescimento acelerado. O catarrento, em seguida, é despachado através de um cabo submarino que liga a cental japonesa ao Núcleo Internacional Nádia Horta de Masturbação Fagocitosa Gamética para Fins de Ordem Secreta, mais conhecido como Ninho de Mafagafos, que é onde fica a máquina e onde a história continua.

A fumaça logo preencheu a sala. O cheiro de sacanagem ardeu fundo nas narinas de Vlad e ele sentiu uma forte pressão nas bolas. Eis que surge, do nada, três crianças. Crianças grandes. A incubadora a jato era deveras rápida.

_ Welcome home, crianças – exclamou Natasha, satisfeita por realizar o sonho de ser mãe sem ter que passar uma melancia por onde só cabe um limãozinho.

Seu sorriso porém foi se dissipando com a fumaça. Ela olhava para os filhos e olhava para Vlad, monitorando as reações do sujeito, que estava embasbacado.

_ Infidel! – gritou o primeiro filho, seguido por um eco de dois gêmeos idênticos, todos barbados e narigudos.

_ Queporraéssa?

_ Eu não sei. Tava tudo certo com a máquina. Que bunda, não to acreditando.

Natasha não sabia explicar a origem de todas aquelas crianças árabes, mas Vlad também não se mostrava aberto a explicações. As crianças certamente não eram dele e o fato de não ter sido traído em um relacionamento que envolvia penetração não confortava a dor de ser um cyber chifrudo.

_ O que eu poderia esperar de uma garçonete do cabelo estranho?

_ Vlad, alguma coisa deu errado, eu nunca usei essa máquina com ninguém. Além do mais estamos só eu e você aqui. - disse em voz chorosa.

_ Наташа Мария! (quando Vlad chama Natasha usando os caracteres esquisitos é porque a coisa é séria.) Eu te conheço de longa data e sei que você não é mulher de um homem só. Vou vasculhar esse lugar e se achar um terrorista aqui, mato você, ele e esse Hezbollah que você pariu.

Vladmir arrancou a peruca loira, para se sentir mais macho e saiu atrás de pistas. A sala era grande, mas sem móveis ou portas extras. Tateou as paredes e dava leves tapas esperando que o som denunciasse alguma passagem secreta. Num desses tapas, notou que a parede não era maciça. Então, com a caixa de fósforos que trouxe na viagem, ateou fogo na parede que se desfez como mágica. Para sua surpresa, atrás dela, estava Abdul.


_ Saia daí seu extremista religioso. Te enfio a faca, mas antes corto seu pinto pra você não comer nenhuma virgem a que tem direito.

_ Non, non faça isso perro amor de Alá. Eu ouvi o que você disse, mas jurro que non sô amante daquela senhorra. Sou apenas um cara tentando pegar meu tapete de volta. Usei essa sala de manhã cedo parra rezar meu alcorão e rogar praga nos americanos e acabei esquecendo meu tapete aqui. Quando voltei pra buscar tava essa fumaceira toda e acabei caindo nessa passagem na parede.

_ Por que será que não acredito em você?


Frase do próximo capítulo: "Ali começava sua nova vida."

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