domingo, 27 de abril de 2008

25 – Kefinkenada



O clima era tenso – Vlad entortando a boca pra ficar com cara de mau, Abdul com o cu na mão e Natasha pensando se seria presa por pedofilia se desse de mamar para crianças tão crescidas.

- Ok, você venceu – disse Abdul, subitamente sotaque-less. – Eu não vim aqui apenas para praguejar contra os ianques, mas para um projeto muito maior e mais ambicioso. Aliás, nem mesmo me chamo Abdul e nem sou um árabe extremista.

- Ué. E é quem então?

O ex-Abdul tirou a máscara que usava, ao melhor estilo final-de-episódio-do-Scooby-Doo, e revelou sua surpreendente verdadeira identidade: ninguém mais, ninguém menos do que ele, o Druida da Pocilga.

Vlad, claro, ficou embasbacadamente estupefato.

- Seu velho maconheiro broxa! Quer dizer que o tempo todo era você o seqüestrador da Natasha? Você me guiou até aqui só pra no final dar uma facada nas minhas costas e uma bolada no queixo dela?

- Não seja bobo, Vladmir. Eu não seqüestrei ninguém, essa danada veio por conta própria e você sabe disso, pois viu ela se esfregando nas dançarinas eslovacas como se não houvesse amanhã.

- Pode ser, mas você se ferrou de qualquer jeito, porque meu saco não tem nada a ver com isso e você é que vai ter que pagar pensão alimentícia pra três bocas grandes que certamente são seus herdeiros. Bem que eu sabia que esse narigão não vinha do nada. E tem mais!: ainda ficou sem ouvir minha dissertação sobre os cachalotes.

- Meu caro Vladmir, eu não preciso de ninguém pra me dizer que o cachalote é o maior animal com dentes da atualidade, que possui no cocuruto uma substância cerosa de cor leitosa ou que tem o segundo maior cérebro entre todas as espécies vivas do planeta Terra, perdendo apenas para o meu.

- Ah é, sabichão? Então explica a sua inteligentíssima intenção com essa palhaçada toda. O que é que o Druida da Pocilga pode querer atrapalhando os planos de uma pobre donzela de engravidar de seu viril amado, e sendo pai por acidente numa idade dessas?

- É aí que você se engana. Eu não sou o Druida da Pocilga.

- Né não?!

O ex-Abdul e ex-Druida tirou sua máscara e mostrou quem realmente era, na verdade: ninguém menos que ele, Raul Santos Seixas, também conhecido como o Pavão Misterioso.

- Poxa, Raul! A gente vindo no forró junto, mó brother, e você me faz uma dessas?

- Foi mal, bicho. Mas foi pra te ajudar. Eu sabia do plano dessa megera desde o começo e precisava evitar que você entrasse numa fria. Então trouxe aqui comigo esse potinho cheio de substância cerosa de cor leitosa proveniente de um árabe que o Paulo Coelho conheceu às margens do rio Piedra, para que a incubadora a jato fizesse os filhos de outro e te salvasse de uma paternidade a contragosto.

- Mas quem te disse que eu não queria ter filho com essa piranha? Vim atrás dessa vagabunda desde a Ucrânia, sendo preso, perdendo mão, não é à toa!

- Ai Vladmir... – disse Natasha, toda derretida com as palavras carinhosas.

- Você devia estar contente por ter finalmente vencido na vida, mas acha isso uma grande piada! – retrucou Raulzito, meio ofendido, mas tendo um estalo logo depois – Ei! Acho que vou anotar isso!

- Então beleza. Deixa a gente em paz aqui, vai escrever suas músicas plagiadas e leva contigo essa turminha das sobrancelhas emendadas que você escolheu criar.

- Tudo bem, mas antes de ir, preciso contar um negócio.
- Diga.
- Eu não sou o Raul Seixas.

Vlad, mais uma vez, estapeou a própria testa.

- Ê laiá... cê pode fazer o favor de tirar todas essas máscaras e me contar de uma vez quem é o fedasunha aí embaixo?

E o ex-Abdul, ex-Druida e ex-Raul retirou a fantasia e revelou quem realmente, de verdade mesmo, tô falando sério agora, juro!, ele era:

- Celton?!
- Isso mesmo, amigão! Surpreso?
- Olha, a essa altura, nem um pouco. Uma história tão cheia de furos só podia mesmo ter um dedo seu. Agora você pode me dizer, por obséquio, que plano maior e mais ambicioso era esse que você tanto fez suspense?
- É pra já!

E tirou do bolso a mais nova edição de sua revista em quadrinhos, Celton número 458, com o título: “O extraordinário atentado terrorista da Al Qaeda ao Edifício Acaiaca”.

- Peraí, vamos recapitular. – disse Vlad, pegando no tranco - Você fez a Natasha despencar da Ucrânia até Belorizonte City com a promessa de usufruir de uma incubadora a jato, me fez segui-la até aqui para garantir que ela acionaria a máquina, trouxe a porra dum potinho colhido dos bagos de um saudita e criou um trio de bin ladens em potencial... para promover a sua nova revistinha?

- Marketing é tudo, meu amigo – disse Celton, orgulhoso.

- E o que pretende fazer depois que tiver exposto eles aí pela cidade durante os engarrafamentos-monstro na Nossa Senhora do Carmo e vendido todos os exemplares, posso saber?

- Ué. Vou botá-los pra trabalhar. Você sabe como é demorado escrever, desenhar, colorizar, diagramar, imprimir e distribuir tudo sozinho. Melhor seria se fossem filipinos, mas acho que dá pro gasto.

- Nesse caso, acho que isso pode ajudar – disse Vlad, entregando as canetas hidrocor de tons variados que tinha trazido na bagagem. – Posso ir agora?

Puxou Natasha pelo braço como quem diz: “Vamos cruzar”, e saiu com ela pelo salão lotado do Ninho de Mafagafos, os três pirralhões atrás gritando “Mamãe!” e ele afastando com o pé:

- Saiam pra lá que esses melões maduros agora são só meus!

Vladmir Moskovsky e Наташа Мария se casaram dois meses depois, numa cerimônia indígena celebrada por um pajé da beiça grande, pançudo, que usava chinelo de dedo. Passaram a lua-de-mel num paradisíaco balneário na Colômbia, enfurnados no quarto como coelhos ensandecidos. Depois consultaram os classificados e alugaram uma pequena cabana na zona rural do interior dos cafundós do Acre, onde passaram a morar sob novas identidades - ela virou Filisbina, ele Sebastião. Ali começava sua nova vida.

FIM
(DA PRIMEIRA TEMPORADA)


Em breve, a estupenda segunda temporada d’A Saga de Tião!

Um comentário:

Von DEWS! disse...

Olá, pessoal!
Fiz uma homenagem a uma das melhores histórias que ja li!
Confiram:
http://hqvertigem.blogspot.com/2008/06/agradecimento-e-indicaes-na-semana-que.html