sexta-feira, 14 de março de 2008

21 – No forró do lengo-lengo



- Bora pegar umas barangas?
- Opa, tô dentro! - disse Vlad. Estava animadão, afinal desde o capítulo 1 ele não comia ninguém. - Deixa eu só passar num hotelzinho, mudar essa aparência de camufla (como diria Didi Mocó) e me tornar novamente uma figura máscula e viril.

- Nada disso, fiote. Você de terno à la James Bond e eu penoso desse jeito? Vamos assim mesmo.


Partiram para o arrasta-pé arretado do qual Raul era freqüentador assíduo. Vladmir, soviético que era, nunca havia dantes posto os pés num forró-bodó, mas a perspectiva de espairecer um pouco após tantos episódios lamentáveis era assaz revigorante.


A fila pra entrar dava uma volta completa no quarteirão e os últimos misturavam-se aos primeiros, dando margem ao tentador migué de entrar ali no meio e jurar que já estava há muito tempo. Vlad, incorporando o safado jeitinho brasileiro e aproveitando sua condição temporária de dondoca, não perdeu a chance, aprumou o decote e pediu frenteira ao primeiro da fila.


- Só se você me der a traseira – propôs o sujeito, mas Vlad, visando a própria integridade física, fingiu que não ouviu.


Três seguranças guardavam a porta do recinto com a simpatia do cãozinho Cérbero, permitindo ou impedindo a entrada a seu bel-prazer. Vez ou outra alguém tentava furar o embargo, como na hora em que um cidadão com pinta de Eri Johnson apareceu como quem não quer nada e abordou os leões-de-chácara:


- Cê tem brochove?

- Hein? – disse o primeiro, que era surdo.

- Cê tem brochove? – repetiu o malandro, desta vez para o homem ao seu lado.

- Cuma? – disse ele, que era burro.


Finalmente, o visitante se aproximou do terceiro homem e fez a mesma pergunta.


- Cê tem brochove?

- Eu num tenho não, mas pode entrar que lá no bar deve ter.

- Ei, que putaria é essa aí? – gritou, ensandecido, o pessoal que estava gangrenando na fila.

- Sua mãe também! – gritou de volta o segurança que era surdo, iniciando um quebra-pau sem precedentes que só terminaria de madrugada, com o saldo de nove mortos, quatro em coma e um parto improvisado na sarjeta. No meio da zorra, Vladelina e Pavão Seixas não tiveram dificuldades em se esgueirar pela catraca de entrada.


Vladmir não percebeu na correria, mas uma placa luminosa de neon, verde brilhoso, contornada por lâmpadas coloridas anos 70 de muito mau gosto e uns pisca-piscas (o plural é esse mesmo) que sobraram do Natal, anunciava solenemente o nome da espelunca: Ninho de Mafagafos.


Frase do próximo capítulo: “- Fantasia? - diz o recém-chegado. - Você está igual!”

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