sexta-feira, 7 de março de 2008

20 - Desmancha isso tudo, oh!



"Te pego na Afonso Pena", dizia o bilhetinho todo azul com os garranchos do Pavão.

Vlad ficou então parado sob a sombra de uma grande palmeira imperial, pensando e olhando uma morena que corria dando seta para os dois lados. Aquele bilhete o instigava, arrepiava os cabelos das ventas. Era como se o fogo de pentecostes lhe tomasse as entranhas. Pensou em seguir direto pra Afonso Pena, mas lembrou-se da missão que ainda tinha que cumprir. Arrumou os peitos com o cotoco e seguiu em direção ao Palácio do Governador.

_Corre, negada! - gritou imóvel, um transeunte paralítico.

Vlad olhou pra cima e viu enormes bolas de fogo rasgando o céu. Meteoros nada simpáticos caíam como chuva e desorientavam as pessoas, que corriam sem rumo. Sem saber o que fazer, já que as instruções do Druida não diziam nada sobre o apocalipse, Vladmir resolveu arriscar e foi comprar sorvete no Xodó. Afinal, precisava esfriar a cabeça. Quando voltava da lanchonete, - que não é tão irada quanto o Giga, mas que também tem uma galerinha super animada - viu que o Palácio do Governador não estava mais lá. Um enorme amontoado de tijolos em chamas e uma nuvem branca cobriam a região. Morreu o governador. De quebra, a cocaína estocada no porão foi arremessada no ar, levando poder, felicidade e amor para todas as criaturas vivas que ali estavam.

Sem nada mais o que fazer, Vlad seguiu pra Little Amsterdam, como é mundialmente conhecida a supracitada avenida. A noite começava a cair e as criaturas, que fazem de tudo por cinco reais, surgiam rebolantes. Seria difícil encontrar o Pavão naquele prostíbulo tão grande, resolveu então esperar que o Pavão o achasse. Os carros paravam pra saber o preço e o nome da boneca, outros passavam jogando legumes e água com limpadores de pára-brisa, mas Vlad ignorava e se mantinha a traveca mais fina do quarteirão. A noite era do Pavão.

Eis que um carro preto, desses que capturam criancinhas na quinta série, pára bem próximo. Vlad abaixou pra ver quem era, mas os vidros escuros mantinham o mistério. A placa do carro indicava veículo oficial e a bandeirinha de Paraopeba indiacava que ele era de Paraopeba. A porta então foi abrindo, deixando escapar uma pena misteriosa.

_ Quer entrar? - perguntou a criatura de dentro do carro.

Vlad ficou com medo, afinal, só tinha uma mão pra dar soco, mas mesmo assim entrou.

_ Quem é você? - quis saber, Vlad.
_ Quem você gostaria que fosse?
_ Sei lá, a Suzane Von Richthofen. (ele tinha uma tara com mulheres perigosas e desalmadas.)
_ Infelizmente não, meu caro. Eu sou o início, o fim e o meio.
_ Raul?
_ Fale baixo. Desde que simulei aquele ataque cardíaco, vivo escondido atrás dessas penas. Somente agora precisei me expor. Não poderia negar um pedido do meu amigo Nei.
_ Pedido?
_ O Newton foi quem me deu cobertura quando resolvi desaparecer, me apresentou o professor Beackman e me transformou nisso. Agora estou pagando o favor. Ele me ligou na Panela do Diabo, onde moro, dizendo que você iria cumprir a profecia e mataria o Aécio, mas ele não sabia que o Paulo - o Coelho - já havia feito a magia pra acabar com o Governador. Aí resolvi te atrasar no caminho e impedir a tragédia.

Os olhos de Vlad se encheram de lágrimas. Nunca ninguém havia se preocupado tanto com ele a ponto de salvar sua vida. Ele olhava pra criatura bizarra que Raul tinha virado, mas não conseguia sentir repulsa. Sentia uma coisa estranha. Era o sentimento mais nefasto que alguém podia nutrir por outrém.

Raul então disse:

Frase do próximo capítulo: "Finalmente, o visitante se aproximou do terceiro homem e fez a mesma pergunta."

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