terça-feira, 4 de março de 2008

19 - Quo vadis?



O motivo do Pavão Misterioso ser tão misterioso, ao contrário do que especulam seus fãs nas inumeráveis comunidades do orkut criadas em sua homenagem ou os documentaristas que comandaram o recente programa "Pavão Misterioso, Um Segredo Enigmático", grande sucesso na BBC de Nova Iguaçu, não era sua consagrada imitação do Clóvis Bornay ou as grandes plumas caudais com manchas oculares iridescentes (fonte: Aurélio) que tanto o atrapalhavam pra sentar, mas o excêntrico hábito que ele tinha de nunca responder uma pergunta. Era justamente o contrário: ele só perguntava.

- Posso me sentar? - repetiu o Pavão, que não tinha entendido o gesto que Vlad fez com a cabeça.
- Senta aí - disse Vlad, com voz de traveco com gripe.
- Qual é o seu nome, boneca?
- Vladelina (ele ainda não tinha decidido seu nome de guerra entre Bianca, Daphne ou Jennifer Christinny, e resolveu improvisar).
- E o que você faz da vida, Vladelina?
- Ah, você sabe... sou uma mulher da vida.
- Ah é? Daquelas que fazem tudo?
- Qualquer coisa. Pode bater, xingar, judiar, tacar fogo e me chamar de Joelma...
- E engolir?
- Engolir pode. Babar é que é o perigo.
- E pra onde você tá indo agora?
- Pra onde eu tô indo? Não é da sua conta, meu filho. Aliás, cê tá fazendo pergunta demais.
- Estou incomodando você?
- Tá enchendo meu saco - irritou-se Vlad(elina), percebendo em seguida a mancada de denunciar a existência de uma bolsa escrotal dividida por uma formação fibromuscular (fonte: Barsa) claustrofobicamente enclausurada debaixo de seu saiote.

Foi então que êla teve a idéia de inverter o jogo e danou a perguntar também:

- E você, bofe, faz o quê da vida?
- O que você acha que eu faço?
- Trabalha na Nasa?
- Na Nasa?
- Qual o problema em trabalhar na Nasa?
- Você realmente acha que eu tenho um emprego na Nasa?
- O que você acha que eu acho?
- Por acaso você tá tentando me confundir?
- E seu eu estiver?
- E se eu começar a te ignorar?
- Aí eu vou ganhar por W.O.
- Ahá! Você respondeu com uma afirmação!
- Você também, cara pálida.

Embora entusiasmado com o jogo verbal, Vlad olhou pela janela e viu o Celton, seu velho conhecido, vendendo no sinal os quadrinhos, os discos, as miçangas e as falsificações de arte rupestre que ele mesmo faz em casa. Estava chegando ao seu destino.

- Ó, seu pavão, foi bom o papo mas vou ter que descer, beleza?
- E eu tenho escolha?

Deu o sinal pro motô, cambaleou no salto alto e desceu em plena Praça da Liberdade. Só então notou um estranho bilhete alojado em seu sutiã e assinado pelo Pavão Misterioso.

Frase do próximo capítulo: "Era o sentimento mais nefasto que alguém podia nutrir por outrém."

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