quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

17 – Ora bolas, não me amole



Com a vista embaçada e o corpo de quem levou uma surra e nem viu, Vlad instintivamente tateou a nuca com a mão que ainda tinha e notou ali cravado um pequeno espeto, o qual retirou com um vigoroso puxão e percebeu que Mara, aquela traíra, tinha lhe soprado uma zarabatana envenenada. “Pelo menos não é um mininoma”, pensou aliviado, antes de desabar no chão como uma smashing pumpkin.

Quando despertou, estava atado a uma cama, com fita crepe cobrindo todo o corpo (pêlos inclusos, para seu desprazer) e uma maçã suculenta obstruindo sua boca.

- Seja bem-vindo – grunhiu uma voz.
- Hnngm hngngaaah – agradeceu Vlad.
- Deve ter sido uma jornada estafante desde Pripyat até aqui, não é, Vladmir?
- Gnaaghh fffããgghn – confirmou Vlad, babando um pouco. Pelo visto, a figura misteriosa sabia de suas aventuras. A mão peluda tomou a maçã com determinação e o dono dela pôs-se a mastigá-la pacientemente enquanto saía das sombras. E Vlad, que finalmente podia falar, ficou sem palavras.

Era um porco gigante. Tão gordo que as banhas da barriga funcionavam como tapa-sexo. Partículas de poeira era satélites orbitando sua pança. Seu hálito fedia a chão de banheiro de rodoviária e até as bactérias da sua boca imploravam por um Halls. Um enorme nariz de tomada, com chavinha de 110/220, fazia um par perfeito com aqueles olhos remelentos. Uma criaturinha simpática.

- Acho que essa é a hora que eu pergunto quem é você – disse Vlad.
- Eu sou aquele a quem você procura – grasnou o porco – O Imperador Newton Cardosus I.
- Imperador? Não deveria ser o rei?
- Rei, imperador, presidente, general, líder da semana, player 1 do videogame, dono da bola, cafetão – regurgitou o porco – Tudo que é posição de comando, é comigo mesmo.
- Chef de restaurante?
- Sou também.
- Moderador de comunidade no orkut?
- Também.
- Líder de banda de metal?
- Tambéééééiiéémm - urrou o porco, caprichando no agudo.

Em suma: o cara mandava mesmo. Dominado pela aflição, Vladmir rezou aos deuses que arrumassem alguma coincidência para tirá-lo dali. A nave do planeta Klingon chegou bem na hora, para sua surpresa, mas eles só deram tchauzinho da janela e continuaram sua excursão pelas cidades mais feias da Terra. A enrascada era das brabas e Vlad sabia disso.

Por isso, lançou mão da única pergunta que lhe restava:

- O que você quer de mim, seu porco imundo?

O leitão abriu um sorrisão.

- Estava esperando a sua pergunta – arrotou ele, mais empolgado que os gols da rodada narrados pelo Tadeu Schmidt, o irmão menos chorão do Oscar. Libertando seu prisioneiro do amontoado de fita crepe e mostrando uma cadeira confortável onde ele podia se sentar, continuou: - Só tava zoando com sua cara. Eu trouxe você aqui porque quero te oferecer uma coisa.

- Que coisa? – perguntou Vlad, já incorporando a personalidade cismada dos mineiros. O porcão jogou à sua frente um contrato de experiência e anunciou:

- Um emprego.

Frase do próximo capítulo: Aberto 24 horas uma ova, reclamou a gorda do ônibus.

Um comentário:

Unknown disse...

Alguém entende uma feijoada light? Ou uma feijoada vegetariana... então não é feijoada... Isso me aflige... bjs! Mi:)