terça-feira, 8 de janeiro de 2008

11 - Puta Que Paris



Não houve o que discutir. Nem o argumento sincero de Vlad, de que o verdadeiro assassino da empregada era uma criança que devia ser da CIA, nem as tentativas da mão de gentilmente bolinar o policial para amenizar a pena, nada funcionou. Enquanto a mão murmurava para o cabo Evandro: "Ingrato! Você não soube me amar!", Vlad foi levado para o camburão e de lá para a delegacia mais próxima.

O distinto delegado usava um casaco malemolente e fumava um charuto maroto, seja lá o que essa frase quer dizer. Tão logo apareceram com o prisioneiro, algemado e indefeso (ó pobrezinho), ele iniciou sua bateria de indagações.

- Que fez o meliante?
- Matou uma empregada com golpes de alicate de unha.
- Era gostosa?
- Devia dar pro gasto.
- Tá em bom estado?
- Tá. As feridas foram só na barriga.
- Leva pra salinha lá dos fundos que vou dar um couro nesse pitéu antes da gente levar pro IML.

A indignação de Vladimir e seus gritos de "necrófilo de merda!!!" definitivamente não ajudaram, e o delegado, assaz ofendido, mandou levarem-no à cela, ao mesmo tempo em que cantarolava um fado antigo: "Aaaai... eu queria ser uma dinamite carregada de amoooor... pra explodir de carinho em ti com ardoooor..."

A cela era imunda, como qualquer cela que se preze. As grades estavam estranhamente escorregadias, sangue de porco enfeitava o chão e a aparente pintura rupestre nas paredes dava um sentido literal à expressão "jogaram merda no ventilador". A sujeira contrastava com a cela ao lado, que estava um brinco e abrigava uma pequena garotinha loira. Vladimir não sabia e nem poderia, mas aquela era Paris Hilton ainda criança, antes de ganhar fama por levar ao mau caminho suas amigas inocentes.

- Ô fia - disse Vlad - Quê que você fez pra tá presa nesse lugar?
- É que eu tava diligindo meu calinho de lolimã meio dlogada... - respondeu a menininha, e voltou a brincar com a sua seringa.

Nisso o delegado reapareceu.

- Ok, moleque. Nós te daremos duas opções. A primeira é passar o resto da vida nesse lixo, vivendo com os ratos e apodrecendo corpo e alma.
- Uhu! Moradia vitalícia!
- A outra é sair daqui hoje, cumprindo a pena que merece pelo assassinato e pela ofensa à minha garbosa pessoa.
- E qual seria essa pena?
- Cortar fora sua mão.

E foi então que, pela primeira vez, viu-se na mão mais desespero do que em Vladimir.

Frase do próximo capítulo: "É que bisteca com tutu sempre me pareceu uma refeição meio comunista."

Nenhum comentário: