terça-feira, 13 de novembro de 2007

09 - I Heart Sabinóps



Vladimir avaliou a situação. Abandonado numa cidade descampada, desconhecida, deslocada, onde o nome de todas as pessoas começava com E, sem mulher, sem grana e com uma boca na mão. Antes que pudesse desabar em prantos, viu que o céu prometia um toró sem precedentes e tratou de procurar abrigo. Tava difícil: nem abrigo de ônibus havia perto (ali só passava bonde, e uma vez por mês). Repentinamente, ele viu surgir no horizonte um homem do campo mascando grama que tranqüilamente caminhava pela região.

- Râp! - gritou Vlad, lembrando-se das anotações do Druida sobre formas rudimentares de comunicação com populações interioranas.
- Râp! - gritou de volta o homem, amistosamente. Quando se aproximou, notou que Vlad não era um dos seus, e, intrigado, perguntou: - Tá tudo bem c’o sinhô?

Vladimir teve que se esforçar para não cair na risada: o sujeito era a cara de um biscoito Trakinas. O sorriso, a cor da pele, o topetinho sem vergonha, tudo igual. Um biscoito recheado em pessoa.
Mas ele manteve a serenidade e respondeu ao homem, usando os idiomas que conhecia:
- Je nê comprrendê cosa neñuma de su lengua, capiche?
A boca da mão, que era mais estudada e sabia português, resolveu tomar a dianteira.
- Seguinte, mermão. Tamo aí perdido pra caralho, ajuda nóis, aê!
O biscoito recheado ficou aterrorizado com o que viu, mas percebeu que Vlad realmente precisava de ajuda.
- Eu num sei pr’onde cês tão quereno ir, mas se pricisarem d’um lugar pra passar a noite, tem o meu celeiro.
A mão aceitou, claro, e assim ela e Vladimir dormiram uma noite tranqüila sob a luz das estrelas, ao som do cricrilar dos grilos, em meio aos bois e vacas do homem-trakinas.

Na manhã seguinte, zarparam para a rua em busca de uma pista do Ninho de Mafagafos. Será que estaria intacto? Será que Natasha Maria sucumbiria à Síndrome de Estocolmo e se apaixonaria perdidamente por seus seqüestradores e fugiria com eles para Tijuana? As dúvidas pululavam na mente de Vlad quando ele topou com um garotinho sujo de lama que brincava ali perto. Chamou o menino com um assovio e ele veio, meio desconfiado.

- Ô moleque, como a gente faz pra chegar em Belo Horizonte? - disse Vlad, dublado pela mão.
- Sei não - disse ele.
- Quem pode ter essa informação por essas bandas?
- Sei não - disse ele.
- Pô, moleque, assim não dá. Cê não deve saber nem seu nome!
- Isso eu sei - disse ele - Meu nome é Daniel.

Frase do próximo capítulo: “A eslovaca e o indiano se entreolharam e saíram pulando.”

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