segunda-feira, 15 de outubro de 2007

07 – Você não abra a boca pra falar do meu trabalho



Embora fulo da vida, o emperebado Vladmir se viu obrigado a seguir as recomendações da desbocada boca. Deixou o albergue onde estava hospedado e partiu com a mochila nas costas rumo a mais um dia estafante. O dossiê do Druida, que tinha sido de grande valia até então, infelizmente não continha instruções sobre como proceder num caso como aquele. Mesmo o longo tópico de imprevistos médicos, que trazia itens como “Como tratar uma combustão espontânea” e “O que fazer se seu duodeno se teletransportar para fora do corpo”, não ensinava as artimanhas de se conviver com uma incoveniente mão falante.
Tentou impor autoridade:
- Larga a mão de ser chata.
- Chata não. Boba.
Tentou ameças de tortura ao melhor estilo Wagner Moura na pele do Capitão Nascimento:
- Se encher o saco eu te ponho uma luva.
- Vou gritar do mesmo jeito.
Por fim, partiu para um golpe baixo.
- Se não calar a boca, vou é descabelar o palhaço e aí você vai ver onde essa sua boca vai parar.
- Ok, ok, você venceu, você venceu – disse a boca, por fim. Vlad tinha muito orgulho de si mesmo quando suas idéias funcionavam. “Eu vou sentir tanta saudade de mim quando morrer...”, pensava, nos momentos de modéstia escassa. Mas tinha hora que ele queria estar na pele de outro.
Foi assim na noite seguinte, quando terminou de cruzar as Fronteiras Infernais do Veberquistão e se deparou com o jatinho que o levaria a Belo Horizonte, destino final de sua busca pelo Ninho de Mafagafos e pela danada da Natasha Maria. O jatinho estava parado na pista, apenas esperando por ele. E o piloto lá dentro da cabine, quieto. Vladmir subiu a escadinha, sentou-se no banco do co-piloto e, ao invés de um simples “bonjour” (o piloto tinha uma cara meio de belga), disse a maior burrada que alguém poderia soltar naquela situação.

Frase do próximo capítulo: “Atrozes albatrozes atropelaram a trágica trinca.”

Nenhum comentário: