quinta-feira, 27 de setembro de 2007

03 - Um estranho no Ninho



Duas horas depois, Vladmir ainda declamava seu lastimoso relato.
-... Então eu pulei n’água e nadei até a margem a tempo de me salvar. Fiquei observando a cena: a jangada naufragou numa sentada e a pororoca devastou tudo. Passei as cinco semanas seguintes no meio da floresta, mais perdido que a Madeleine, cercado apenas de porcos selvagens. Resultado: viciei em chouriço. Hoje em dia, é a única coisa que me clareia as idéias quando preciso resolver algum problema.
- Puxa – disseram os siameses, emocionados. – Que história de vida complexa e comovente.
- Pois eu acho que é tudo lorota. - disseram os mesmos siameses, que também tinham dupla personalidade. – Além do mais, você não respondeu o principal: se você está mandando tanto chouriço pra dentro, qual é o problema que você precisa resolver agora?
Vladmir baixou o tom de voz e, com sangue de porco morto escorrendo pelo canto da boca, sussurrou ao(s) dono(s) do lugar:
- Eu preciso encontrar o Ninho de Mafagafos.
Zoom rápido estilo filme de kung-fu no olhar dos gêmeos com direito a enquadramento titubeante percorrendo horizontalmente suas chocadas expressões faciais.
- Pra quem acabou de chegar aqui, você não quer pouco, hein? – disseram os rapazes. – Mas acreditamos que podemos te ajudar.
Dito isso, ambos se levantaram e passaram um bom tempo numa salinha escondida nos fundos da cantina. Vlad permaneceu ali, brincando com a comida. Pouco depois, voltaram os gêmeos e, sem dizer palavra, puxaram Vladmir pelo braço e o levaram à mesma salinha.
Ele não poderia ter ficado mais surpreso com o que viu ali.

Frase do próximo capítulo: “Ele não tinha nada pra falar de baleia.”

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