quarta-feira, 24 de junho de 2009

XIV - Foi no Tororó beber água não achou.



Frase do capítulo: "Loirinha cafungada do negão é um problema."
(Cravo e Canela)


Tião colocou a mão pra trás e circulou pela sala enquanto falava:

- A verdade é a seguinte, mano véio: Tô precisando de uma sela pra dromedário. Andar na carcunda da Natasha tá acabando com a minha bunda.
- Entendo seu problema. Uma vez fui jogar biriba na casa do Persinatti, da Cosa Nostra, vacilei e acabei perdendo a última rodada.
- Não entendi a relação com meu problema da bunda.
- É que não aceitaram dinheiro ucraniano pra pagar a dívida do jogo.
- Ai.
- Passei duas semanas sentando de banda. Bunda e samambaia são coisas que a gente tem que cuidar, meu irmão.

Os dois conversavam na sala enquanto o pai de Vlad aguardava do outro lado da rua. O sol não estava forte, mas o calor e a umidade incomodavam. Notando que Natasha também estava inquieta, pegou a bicha pela orelha e saíram para uma volta. Pela janela, viu que o filho ainda batia papo com Simpósio e não se preocupou em avisar da caminhada.

- Hahaha... Aí ele falou: "Pode deixar que eu toco sozinho". hahahaha - riu, Simpa, terminando a piada.
- Brow, queria poder ficar mais, mas tenho que resolver algumas coisas na rua antes de pegar estrada. Fiquei de passar no supermercado pra comprar umas birinaites e comida de camelo.
- Eu entendo. O Caixa Alta, meu capanga, foi buscar a sela na garagem. Vem que eu te acompanho.

Os dois seguiram em direção à porta combinando o próximo encontro. Simpósio tinha planos de abrir uma fábrica de bolinhas de apito no Acre e pretendia visitar o irmão muito em breve. Despediram-se com o habitual peteleco no baço. Tião saiu, olhou ao redor procurando a Madonna e sua mulher peluda, mas não viu nenhum dos dois.

- PAIÊ...

Vlad colocou a sela nas costas e saiu pela rua gritando feito uma ambulância. Pensava em tudo de ruim que já havia passado e não queria viver novamente. Vagou desconsolado, chorando e resmungando até topar com uma praça de nome estranho, - mas que eu não me recordo nesse momento. - Comprou um Frutilly sabor casquinha de ferida, sentou e esperou. O tempo passou e nenhum sinal dos desaparecidos.

- Oi. O senhor tá esperando alguém? Tava te olhando da janela enquanto escutava Padre Fábio de Melo e notei que já faz tempo que tá parado aí. - chegou chegando uma loirinha querosa.
- É que meu pai e minha mulher desapareceram. Vim de longe, passei pra visitar meu irmão e os dois ficaram me esperando na porta. Eles deviam ter entrado comigo, mas minha mulher tá soltando muito pelo e ia acabar cagando no tapete da sala ou comendo uma almofada.
- Tenho uma venda do outro lado do bairro, se você quiser, vamos até lá e tentamos encontrá-los. Você aproveita e come alguma coisa.
- Pode ser. Desculpa, não sei o seu nome.
- Meu nome é Shavaska.
- Posso te chamar de Greta?
- Pode.
- Muito prazer, Greta, sou o Vlad, mas pode me chamar de Tião.

Os dois caminharam lado a lado pela rua e conversavam como velhos amigos. Tião contava sobre suas aventuras pelo mundo, ensinava a bater palma sem uma mão e a fazer KY de jurubeba . Greta, ria, contava casos, mas falava mais de seu ex-namorado angolano do que dela mesma. Confessou que desde que Benguelê havia desaparecido nunca mais conseguiu um par. Rolou alguns casos passageiros com hidrantes, extintores de incêndio, mas nada se comparava à pegada do africano.

- Mas é isso que te falei, Tião. Ainda tô procurando por ele e tenho certeza que aconteceu alguma coisa pra não ter voltado da padaria.
- Com a Natasha foi a mesma coisa. Nunca desisti de encontrá-la. As vezes eu me perguntava se valia a pena, mas quando a gente gosta é claro que a gente cuida.
- Pois é, o Benguelê me pegou de jeito. Eu tinha 9 anos e gamei, agora ninguém me quer mais por causa desse meu passado relaxado.
- Não é culpa sua. Loirinha cafungada do negão é um problema, aqui e em qualquer lugar do mundo. Rola mesmo um preconceito.

Algumas estalecas depois, quando passavam sobre uma ponte velha e cheia de buracos, Greta ouviu que alguém pedia socorro. Parou Tião com o braço, segurando-o pelo peito e perguntou se ele também escutava.

- Parece que vem de lá. - disse ela, apontando para a estrada de terra batida no fim da ponte.
- Acho que ouvi alguma coisa. Peraí.


Frase do próximo capítulo: "Tive pelo beiço de uma pulga pra não ir acertar as contas."
(Ditado do povo de Sertão)

Um comentário:

Amanda Eid disse...

ela dançou até seus pés sangrarem seu sangue quente