terça-feira, 2 de junho de 2009

XIII - I believe in Ukraine



Frase do capítulo:
"Isso. Mas ficando ou rolando, o que importa é se bateu. Pode rolar de rolar e não bater, e ficar e bater."
(Os Normais)

Don Simpósio fechou o expediente como fazia todo fim de tarde: contabilizou a receita obtida pelos homicídios do dia, anotou na agenda quem ele mandaria matar no dia seguinte de modo a parecer acidente, entregou a lista de compras pra empregada - xampu, sabão em pó, massa de tomate, alicate, silenciador e sapatos de cimento - e recebeu um telefonema da mãe ("Não esqueça o casaquinho, meu filho" / "Serve paletózinho de madeira, mamãe?").

Já ia tomar sua gemada e calçar sua pantufa dos Sopranos quando Trigueiro, o mordomo, tocou a sineta e anunciou um visitante na mansão. Don Simpósio bufou de desgosto, matou o mordomo com um bico de garça e pediu ao suplente que deixasse o visitante entrar.

- Quem é o pascácio, Lambido?
- Ele diz que o nome é Moskovsky, senhor. Vladmir Moskovsky.

Don Simpósio emudeceu, ou seria emudeceu-se?, e fez um sinal sutil com o nariz indicando que o intruso deveria se apresentar imediatamente. Lambido, o suplente de mordomo, saiu da sala e chamou o visitante.

Entra o Jaspion.

- Fala, Simpa.

Don Simpósio arqueou as sobrancelhas, ou seria sombrancelhas?, como quem come um suflê de cogumelos podres e não sabe se mata o garçom pela audácia ou se abraça o cozinheiro pela ousadia. Finalmente, abriu um sorrisão evidenciando a arcada questionável e abraçou o sujeito à sua frente:

- Vladzão, seu filho duma égua!
- Simpósio, seu filho da mesma égua!
- Ta kill par ill, mano! Que fim cê levou? As partidas de strip-adedanha nunca mais foram as mesmas desde que você foi-se embora! E o time de futsal também ficou desfalcado quando o Gervásio passou pra equipe dos sem-pernas depois daquele intercâmbio em Angola...
- Mas em compensação olha você aí, todo prosa, chefão da máfia! Eu sou apenas um rapaz latino-ucraniano sem dinheiro no bolso, sem mão no braço, vindo do interior do Acre. Me fala! Como vão os irmãos? Mamãe? Papai?
- Todo mundo de boa. Peçanha virou adestrador de orquídeas, Sabugo realizou o sonho de se tornar analista de exame de fezes, Enésio é violinista de semáforo, mamãe largou as drogas e papai perdeu alguns neurônios jogando roleta russa com revolvinho de bolinha, mas agora tá namorando uma ovelha e vem melhorando.
- Namorando uma ovelha?
- Namorando ou ficando, sei lá.
- E tá rolando?
- Até que tá. O bom é que ele se mantém ativo, certo?
- Isso. Mas ficando ou rolando, o que importa é se bateu. Pode rolar de rolar e não bater, e ficar e bater.
- Pelo que sei a bichinha apanha que nem uma russa. Mas me conta, Vlad. Como foi que me achou aqui?
- Pedi informação na rua e um cara me falou, antes de morder um tic-tac de cianureto. Eles devem temer você aqui nas redondezas.
- Nada, eles têm é vergonha. É que eu fico cantando Hakuna Matata pra dentro no meio da rua.

Tião coçou a pistola (da fantasia de Jaspion), titubeou por um átimo, pigarreou e prosseguiu:

- Eu preciso de ajuda, Simpa.
- Eu já desconfiava, Vladeco. Pode falar, sou seu irmão, sou todo ouvidos. É dinheiro?
- Né não.
- É mulher?
- Hm. Mais ou menos?
- Pode se abrir, cara. Seja direto. Seja franco.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Bom. Depois que minha esposa morreu envenenada em Parintins e eu vim com meu verdadeiro pai pra podermos enterrá-la com pompa, circustância e fantasia de recém-nascido, topamos com um lugar para ressuscitá-la e mandamos bala, mas ela virou um bebezão, começou a querer mamar na galera, brincar com o chocalho de todo mundo, aí ficamos putos e resolvemos reverter o processo segundo o manual, só que eu não consigo ler nada com esses olhos puxados e meu pai esqueceu os óculos de leitura, mas por sorte um chinês passava perto e ajudou a gente a ler a oração do revertério, só que o cara tava com soluço e a palavra pra "defunto" acabou pronunciada como "dromedário". Resumindo, é isso.

Don Simpósio fez sua cara de crítico francês analisando poesia concreta e disse:

- Hmm. Entendi. Você me julga um homem poderoso, influnte e sabido e quer saber se eu conheço alguma forma de transformar sua mulher de novo em gente.

Tião afastou a cortina, olhou lá fora e indicou seu pai vestido de Madonna e montado sobre um garboso dromedário, que mascava feliz um babalu banana e tinha o olhar sereno.

E o Tião, sorrindo amarelo:

- Bom... Não é bem isso.

Frase do próximo capítulo:
"Loirinha cafungada do negão é um problema."
(Cravo e Canela)

2 comentários:

Bella disse...

"Nada, eles têm é vergonha. É que eu fico cantando Hakuna Matata pra dentro no meio da rua." kkkkkk Fica mesmo!!!!

maryspub disse...

Cantar Hakuna Matata pra dentro no meio da rua dá medo mesmo... principalmente numa cidadezinha do interior onde até hoje nem chegou o DVD do Rei Leão... aff...