segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

I - Lá na cabana, bacanal



Cafundós do Acre, oito horas da manhã.

Estamos em algum canto muito esquecido desse mundão de meu Deus. Faz um calor da muléstia e não há viv'alma nas ruas, mesmo porque não há ruas: só uma cabana, uma mirrada cabana, perdida no meio de tantas árvores, tanto verde. Mas ali na cozinha, fumando um cigarrinho suspeito e preparando o café da manhã, há um casal feliz.

Eles atendem por nomes diferentes: ela agora é Filisbina, ele Sebastião. Têm novo visual - ele adotou os colares e ostenta um autêntico cavanhaque de cafajeste, enquanto ela deixou o cabelo crescer até o joelho e amarrou cipós nas pontas pra evitar tropeções. Na hora do vamos-ver, costumam borrar a cara com pinturas de guerra e chamar um ao outro de apelidos carinhosos: "Minha suçuarana selvagem", "Meu jacarezinho do papo amarelo" e afins. É apenas mais uma das influências indígenas adquiridas pelo casal desde a mudança para esta choupana no interior do Acre. Antes, quando eram Natasha e Vladmir e levavam boa vida na Ucrânia, eram seres urbanos que não tinham nada pra falar de baleia. Hoje, após tantas aventuras, desventuras, inventuras e não-venturas vividas no improvável trajeto do leste europeu à capital de Minas Gerais, e a subseqüente chutada de balde que os levou a uma acertada mudança de ares, só o que tinham de soviéticos eram as lembranças e a tatuagem com a cara do Lênin que Filisbina tinha na bunda. De resto, eram criaturas do mato: caçavam pacas e tatus para o almoço, sabiam quais as folhas prestavam pra curar e quais eram boas pra ficar doidão, tomavam banho nas pororocas e até adotaram como bichinho um simpático tamanduá de óculos - o que comprova, de uma vez por todas, que formiga não faz bem pra vista porra nenhuma.

O único contato com a civilização era a tribo vizinha, que ficava a dois dias de caminhada e era habitada por txucarramães de classe média-alta cheios de iPods, iPhones, iMacs, iMachadinhas e iFlechas. Sebastião e Filisbina só iam lá quando precisavam obter alguma informação urgente, como os pormenores do casamento da Sandy. Mas depois que Sebastião se engraçara com uma zinha no Second Life, Filisbina tinha-lhe proibido o acesso à internet e ainda o castigou com uma semana de couchsurfing na própria casa. Fora esses contratempos, o convívio dos dois era uma beleza que só vendo.

Um dia, no entanto, uma inesperada visita perturbou o idílico ambiente caseiro. Estavam os dois tomando um café da manhã esperto regado a frutas silvestres e cachimbos da paz, quando ouviram um barulho perto da porta. Seriam uivos? Seriam gritos? Uma audição mais atenta revelou um timbre masculino resmungando baixo: "Pára de lamber meu pé, tamanduá chato!". Intrigada, Filisbina levantou a poupança da cadeira de palha e foi averiguar. Passados trinta segundos, voltou à sala exalando preocupação e anunciou:

- Tião. O pajé quer falar com você.

*****

Agora é a sua vez: a primeira frase avulsa postada nos comentários será obrigatoriamente encaixada pelo autor no próximo capítulo. Para ser válida, ela deve ser realmente avulsa e desconexa, coisas do tipo "Melhor isso do que levar outro cuspe no olho" ou "Percebeu a aproximação do estranho tucano e levantou a mão pedindo altas". Não vale usar nomes próprios ou injúrias infundadas contra os autores, nem as palavras "blog", "internet" ou "nematelminto". Mãos à obra!

UPDATE: Bernardo Silvino postou nos comentários a frase "Para com isso, porra. Já não teve graça no Carnaval e tem menos ainda agora". O De Pinho terá que se virar para encaixá-la no capítulo II.

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Para com isso, porra. Já não teve graça no Carnaval e tem menos ainda agora.

Unknown disse...

Ah...num deu tempo...o Bernardo foi mais rápido... Mas parabéns pelo início da segunda temporada! Na próxima chance eu tento mandar a frase avulsa!! Bjundinhas!

Unknown disse...

Ah, é a Michele.... Sempre esqueço de assinar...